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por YURI LEONARDO

Olá!

Hoje a gente vai falar sobre cartazes. 

Mas vamos começar lá do começo. 

Do começo, mesmo. 

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Quando um ser humano dos primórdios da História avistava na lama da selva inóspita as pegadas de algum animal, o que se avistava era um sinal gráfico. Para além: o humano antigo enxergava nas pegadas o animal como um todo. A imaginação, fantástica capacidade de criar imagens, do nosso parente ancestral cuidava de construir toda uma história diante daquela marca. Tal experiência implicaria entre ter sucesso em conseguir alimento ou fugir de alguma ameaça - em suma, sobreviver.

Com a invenção da escrita e o avanço das tecnologias de reprodução de imagem, a humanidade passou a desenvolver cada vez mais a confecção de sinais gráficos, criando novas maneiras de alertar, informar, instruir, promover ideias, contar histórias através de texto e imagem. Dentro desse universo de possibilidades, o gênero Pôster (ou Cartaz) surgiu como uma peça gráfica que reúne imagem e texto sobre uma superfície plana para promover ou apresentar alguma ideia, evento, serviço ou produto.

Os primeiros pôsteres conhecidos no Ocidente surgiram em grandes cidades europeias no final do século XIX. Era através da impressão de texto e imagem em uma simples folha avulsa e lisa que se comunicavam produtos e serviços para a multidão anônima. É possível compreender um pouco da vida urbana da Europa dos 1890 através dos cartazes de autores como Jules Chéret, Toulouse-Lautrec, Pierre Bonnard ou Alphonse Mucha. 

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No Brasil, a impressão de textos e imagens era proibida desde o que se chama por "descobrimento", ocorrido no ano de 1500. Foi a partir da chegada da corte portuguesa, em fuga das tropas napoleônicas em 1808, que os primeiros equipamentos tipográficos chegaram em nosso território. Em meados de 1900, a introdução de inovadoras técnicas de impressão, como a litografia (impressão em matriz de pedra), possibilitou o surgimento de uma profícua geração brasileira de ilustradores-designers atuando em capas de livros, almanaques, revistas, jornais e cartazes, ainda que estes últimos tenham se manifestado de forma tímida no período. 

Foi então a partir da década de 1920 que os cartazes ganharam força como produto de comunicação em massa. A influência das vanguardas artísticas como na Semana de Arte Moderna de 22, a construção de uma "identidade" que acompanhasse a industrialização e a urbanização da sociedade brasileira foram alguns dos primeiros incentivos na experimentação e diversificação visual da época. Novos regimes econômicos, propaganda, rádio, publicidade, televisão, consumo, revoluções de costumes, cinema, contestação, conformidade, globalização, internet... Tudo isso entrou no caldeirão que resultou no surgimento de uma miríade de manifestações gráficas brasileiras ao longo das décadas seguintes.

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Já faz alguns anos que boa parte das pessoas vive dentro de imagens. Nesse contexto de tantas possibilidades, tantas vozes, tantas distrações, tanto ruído, a produção de cartazes pode ser um aceno na multidão, uma forma de chamar atenção de um transeunte (no Centro de Fortaleza ou na rua infinita da timeline) para algo que possa ser de interesse. Se for um convite para apreciar um espetáculo de arte em um monumental cineteatro, desligando-se da grande confusão da Babilônia por algumas horas para se conectar com outro ser humano num palco ou elevar o espírito à alguma ideia na gigantesca tela prateada, melhor ainda.

As imagens podem nos prender, mas elas também libertam e nos fazem ter desejo, sonhar, planejar um futuro possível e praticável. Você exercita a imaginação, tal qual o humano ancestral que falamos anteriormente, aquele que viu a pegada no meio da selva.

 

Esse papo todo é sobre sobrevivência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FLUSSER, Vilém - O Mundo Codificado: por uma filosofia do Design e da Comunicação. Ubu Editora, 2017.

FRUTIGER, Adrian - Sinais e símbolos: desenho, projeto e significado. Martins Fontes, 2007.

HOLLIS, Richard - Design Gráfico: uma história concisa. Martins Fontes, 2000.

MELO, Chico Homem de [org.], COIMBRA, Elaine Ramos [org.] - Linha do tempo do Design Gráfico no Brasil. Cosac Naify, 2011.

PATER, Ruben - Políticas do Design: um guia (não tão) global de Comunicação Visual. Ubu Editora, 2020.

daquilo sobre o palco

Cartazes de teatro, dança, música - em geral, espetáculos sobre o palco - são sempre muito prazerosos de serem feitos. Eu acredito que eles funcionam como uma prévia do que pode vir ser a experiência de fruir o espetáculo. A melhor forma de conseguir encontrar a combinação entre imagem e texto é pensar sua cabeça como um aparelho de rádio e tentar sintonizar uma frequência possível, a emissora que soe como o artista ou como a ideia que estão tentando passar ao público.

(Na galeria a seguir, clique nas imagens para mais informações e comentários sobre cada um dos cartazes)

O ritmo de produção e confecção de material de divulgação do Cineteatro São Luiz é bem frenético e agitado. Muitas vezes as fotografias encaminhadas pelas equipes de produção dos espetáculos já trazem uma ideia bem definida da proposta do que vai se apresentar e tem grande valor estético e gráfico para a composição de cartazes. Em outros casos, uma abordagem que sintetiza a mensagem para o espectador é fazer uma referência direta à uma capa de um disco ou a um movimento estético. Também vale simplesmente causar algum estranhamento como forma de chamar atenção do público na rua ou na timeline de uma rede social.

(Na galeria a seguir, clique nas imagens para mais informações e comentários sobre cada um dos cartazes)

daquilo sobre a tela

Função primordial do equipamento, o Cinema no São Luiz se configura tanto em exibições avulsas quanto em mostras temáticas - claro, tudo dentro de uma proposta narrativa. Uma diretriz de trabalho é observar a programação ofertada pelo Cineteatro como formação de repertório para o público e seu entorno.

 

Sentar-se na plateia e contemplar um filme no São Luiz é também uma forma de viajar sem sair da poltrona vermelha, ampliar os horizontes, conhecer novos mundos ou simplesmente observar algo por um ângulo novo. Essa dimensão de trabalhar novas ou outras abordagens reflete também na concepção dos cartazes de exibições, propondo ao espectador a oportunidade de conhecer (ou re-conhecer) um autor, uma obra ou um universo através de uma aproximação visual alternativa.

Muito dessa postura foi derivada tanto da necessidade de se criar um apelo de novidade para frequentadores mais jovens, que não viveram a época do Cinema São Luiz, quanto um convite para um público iniciado ter oportunidade de usufruir novos usos e experiências do então Cineteatro.  

(Na galeria a seguir, clique nas imagens para mais informações e comentários sobre cada um dos cartazes)

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Na celebração do Cineteatro São Luiz em homenagem aos 50 anos de lançamento do filme "Terra Em Transe", de Glauber Rocha, a proposta foi construir um cartaz para o evento com base nas diversas "cruzes" que o fictício país de Eldorado carrega, também representadas pelos arquétipos políticos que disputam o poder e o controle da nação retratada na obra.

Na sessão especial alusiva ao Dia do Cinema Brasileiro, o filme "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos, foi exibido ao público. A ideia foi retratar a cachorra Baleia como de pernas longas, esquálidas e seca tal qual um palito de fósforo queimado.

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Para a Mostra Perfil de Cinema - Andrei Tarkovski, foi proposta uma releitura de um poster francês (projetado pelo belga Jean-Michel Folon) do filme "Stalker". O poster tem como base uma emblemática cena do filme (sem spoilers!) e foi redesenhado numa versão mais neon e reducionista. Um monólito luminoso resplandece num plano vibrante e infinito, circundado por dunas de areia fina que são desbravadas por três viajantes misteriosos. A disposição do texto no cartaz reforça o monólito como a imaginação do cineasta, e os viajantes como seus filmes, indo ao encontro do próprio criador. 

A mostra de filmes de Ingmar Bergman tinha um caráter muito forte no drama das personagens. Foram selecionados fragmentos das películas e tratou-se de aplicar retículas gráficas de ampliação, dando um efeito de serigrafia, no intuito de aproximar posters a capas de livros antigos - algo que remete à densidade e profundidade que as obras do diretor sueco conseguem atingir.

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Reverenciando o impacto cultural e a popularidade das animações japonesas, o Cineteatro realizou uma mostra temática de Animes, onde doze títulos foram exibidos. As peças foram compostas utilizando apenas silhuetas de personagens e uma das características mais marcantes do gênero: os olhos grandes. 

Para a Mostra Distopia, uma coletânea de ficções científicas sobre o tema, o peso da palavra já servia como solução, como uma cortina volumosa derramando-se no breu. A distopia é um desconforto, mas ela se esparrama lentamente, como um alerta.

 

No desenvolvimento dos flyers individuais de cada título, frames dos filmes passaram por um tratamento de deterioração para se alcançar um efeito pixelado de baixa resolução. Era o mote para dar unidade e identidade comum às diferentes obras.

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Movimentos como a Era Dourada dos pôsteres poloneses, nas décadas de 1950 e 1960, ou os pôsteres de cinema pintados à mão em lugares como Gana ou na Nollywood nigeriana, dão dimensão de que novas versões de cartazes podem contribuir para o consumo e reconhecimento local das obras. Na Mostra Perfil de Cinema - Peter Jackson, três películas do diretor foram ofertadas ao público. São títulos já conhecidos no mainstream do cinema estadunidense. Para o Cineteatro, em Fortaleza, buscou-se compor cartazes com as cores vibrantes da nossa cidade, ainda que apoiando-se em paletas beirando a psicodelia como forma de reverenciar o gênero de Fantasia. 

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Em "O Hobbit", houve uma releitura em cores "iracemadas" da capa da primeira edição do livro de J.R.R. Tolkien, datado de 1937. Inspirações em videogames dos anos 1980 foram um norte na concepção do cartaz para a trilogia "O Senhor dos Anéis". Já em "King Kong", uma pesquisa sobre representações visuais de divindades indonésias serviram de base para o desenho do rosto do protagonista - no universo do filme, a fictícia Ilha da Caveira, berço do "Deus-Gorila", é localizada no Pacífico Sul.

Os cartazes desta exposição digital foram realizados entre 2017 e 2019. Foram fixados tanto em uma das duas vitrines da fachada do Cineteatro São Luiz (na Rua Major Facundo, 500 - Fortaleza) quanto nas redes sociais do equipamento.

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Yuri Leonardo é designer do Cineteatro São Luiz há três anos e tem experiência de mais de uma década em design, com vivências em comunicação institucional e criação de conteúdo. Possui foco em imagem institucional, produção gráfica e edição de conteúdo editorial, e comunicação de órgãos públicos. Presta consultoria para grupos de artistas independentes, jovens empreendedores e instituições ligadas às áreas de Cultura, Ciência e Tecnologia.

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