Artigo de Duarte Dias, curador e programador de Cinema do Cineteatro São Luiz [Publicado originalmente no site Segunda Opinião]
“Ao completar 65 anos de existência, o Cineteatro São Luiz segue ativo, inventivo e antenado com as mais novas formas do fazer cultural, mas sem perder de vista sua grande história. Tal qual um filme inesquecível”.
Foto: Guilherme Silva
O parágrafo acima é o trecho final de um artigo que escrevi para o jornal O Povo e que foi publicado no dia 26 de março de 2023, data exata de celebração dos 65 anos da inauguração do Cine São Luiz, agora Cineteatro São Luiz.
Chegado o mês de maio, ressalto outro destaque associado ao legado de Luiz Severiano Ribeiro, hoje um equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará gerido pelo Instituto Dragão do Mar: o inusitado privilégio de celebrar dois aniversários por ano.
Isto se dá porque, de fato, o ciclo do Cine São Luiz, iniciado em março de 1958 e ancorado unicamente na atividade de sala de exibição cinematográfica, encerrou-se, por motivos vários, pouco antes de sua aquisição pelo Governo do Estado do Ceará, em 2011; após relativo período de preparação e realização de obras que visaram sua restauração e reforma, o antigo cinema foi reaberto em maio de 2015, já com uma nova identidade e configuração de atribuições, favorecendo tanto o cinema como outras linguagens artísticas, o que se refletiu na sua nova denominação: Cineteatro São Luiz.
Iniciado o atual ciclo, é portanto justo e razoável que também se celebre, anualmente, o marco temporal e fundante de sua nova existência, cujos resultados alcançados, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, se coadunam harmonicamente com a escala monumental da própria edificação, que retomou, revigorada, diversificada, acessível e democrática, o seu papel de referência cultural junto não só a população de Fortaleza, mas também do Ceará e do Brasil.
Cabe destacar, na celebração desses 8 anos de atividades do Cineteatro São Luiz, seu significativo papel enquanto espaço cultural e social encravado no centro da cidade, capaz não só de promover e valorizar, por meio de programas, atividades e ações ofertadas tanto de forma presencial quanto online, o convívio, o diálogo e a troca de ideias entre todos os membros da sociedade – independentemente de sua origem socioeconômica -, mas também de contribuir para a revitalização do espaço urbano, seja estimulando as atividades econômicas do entorno pelo viés da atração e fidelização de um variado perfil de público, seja na interlocução com a própria população do Centro da cidade, com especial atenção às pessoas em situação de rua.
Outro aspecto de fundamental importância nesta nova fase do Cineteatro São Luiz – cuja edificação é um bem tombado como patrimônio histórico e cultural pelo Governo do Estado do Ceará, por meio do decreto de nº 21.309, de 13 de março de 1991 – , é o seu papel na preservação e difusão da memória cultural, em especial na linguagem do cinema, que tem oferecido, ao longo desses 8 anos, um vasto e diversificado portfólio de conteúdos audiovisuais de todas as épocas, estilos e gêneros, tanto nacionais quanto internacionais, incluindo, com destaque, produções cearenses: apenas nos últimos 15 meses foram exibidas pelo São Luiz 78 produções audiovisuais cearenses, sendo 44 de maneira online e 34 presenciais, entre filmes de curta, média e longa duração, além de videoclipes e produções outras.
Espaço inclusivo, interativo e revitalizador, com notórios benefícios culturais, sociais, econômicos e psicológicos para a cidade de Fortaleza, em particular para sua desafiadora zona central, o Cineteatro São Luiz – antigo Cine São Luiz – se constitui, hoje, como um lugar de tradição e inovação, aliando experiência e modernidade em benefício de todas as artes e públicos, pelo que justifica-se, acreditamos, a celebração de seu segundo aniversário em um mesmo ano, no caso, o oitavo deste novo ciclo. Celebremos.
Duarte Dias
Cineasta, roteirista, curador audiovisual, fotógrafo e compositor, Duarte Dias foi premiado em vários festivais de música no Ceará, tendo lançado seu primeiro álbum autoral, "Jardim do Invento", em fevereiro de 2019. Com premiações em festivais de cinema no Brasil e no exterior, ocupa a cadeira de n° 36 da Academia Cearense de Cinema. Idealizador e diretor geral do FestFilmes - Festival do Audiovisual Luso Afro Brasileiro, e ex Coordenador de Política Audiovisual da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (2016-2019), desempenha, desde 2015, as funções de programador e curador do Cinema do Cineteatro São Luiz e Assessor de Políticas Culturais do Instituto Dragão do Mar (IDM), vinculado a Secult-CE.
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