top of page
CSL - EXPOSICOES.png
chico da silva
revisitando
por Grupo Entrelaçadas
com Curadoria de Roberto Galvão
ÍNDICE da exposição

Utilize os botões para navegar nas sessões da exposição ou siga rolando a página conforme a sequência.

IMAGEM DE ÂNGELA - GUILHERME SILVA-2.jpg
IMAGEM DE ANNELIETE - GUILHERME SILVA-3.
IMAGEM DE CLÁUDIA PINHEIRO - GUILHERME S
IMAGEM DE IÊDA CUNHA - GUILHERME SILVA-2
IMAGEM DE JACINTA JOCA - GUILHERME SILVA
IMAGEM DE LÁUCIA ROCHA - GUILHERME SILVA
IMAGEM DE IVONE - GUILHERME SILVA-3.jpg
IMAGEM DE MERCEDES CUNHA - GUILHERME SIL
IMAGEM DE MARTA VIANA - GUILHERME SILVA.
IMAGEM DE PAULA ORIÁ - GUILHERME SILVA.j
IMAGEM DE SUZANA - GUILHERME SILVA-3.jpg
IMAGEM DE CRISTINA CAPELO - GUILHERME SI
IMAGEM DE HELENIRA CUNHA - GUILHERME SIL
IMAGEM SEM AUTORIA - GUILHERME SILVA-3.j
IMAGEM DE IARA - GUILHERME SILVA-2.jpg
IMAGEM DE LUCIA ALVES - GUILHERME SILVA-
IMAGEM DE MARGARIDA - GUILHERME SILVA-3.
IMAGEM DE IVANISA FARIAS - GUILHERME SIL
IMAGEM DE NADJA - GUILHERME SILVA-3.jpg
IMAGEM DE VANDA ALMEIDA - GUILHERME SILV
IMAGEM DE OLGA - GUILHERME SILVA-2.jpg
IMAGEM DE ZENAIDE FORTES - GUILHERME SIL
IMAGEM DE PAULA FARIAS - GUILHERME SILVA
IMAGEM DE ZENAIDE MAIA - GUILHERME SILVA
Menu

1.

Chico, assim como outros artistas de origem não europeia, busca expressar-se através de um simbolismo representacional que não se prende aos valores e normas que nos foram apresentadas ou impostas pelos europeus.

2.

Em nosso subdesenvolvimento cultural ou submissão a valores ideológicos colonialistas, buscamos entender, justificar e valorizar através de aproximações com as ideias dos movimentos expressionistas ou surrealistas, mas que no real não seguem esses preceitos programáticos, nem têm relação alguma como processos dessa imitação inconsequente.

3.

Logicamente, não poderia ser de outro modo: nesse processo tudo aparece e só adquire valor se acontecer na Europa.

4.

Muito provavelmente o processo de trançar é de tempos imemoráveis, que se perderam na noite da história. E muito possivelmente, os nossos primeiros trançados surgiram em palhas, cipós, etc.

BORDANDO CORES, TEXTURAS, VISÕES DE MUNDO. BORDANDO CHICO.

 

Roberto Galvão - Curador.

Hoje sabemos que não existe uma arte que seja global, como afirmavam os mais antigos. Agora, percebemos que cada povo, cada tempo e lugar, tem a sua cultura e a sua arte com características que lhe são próprias. E consequentemente percebemos que todas as histórias que nos foram e são contadas devem ser repensadas, criticadas e talvez reconstruídas em nossas mentes com um roteiro mais adaptado ao nosso território, ao povo e à cultura do local onde ela se desenrola. 

 

É com enorme tristeza que percebemos que grande parte de tudo que nos foi contado, dito, ensinado tinha/tem uma grande dose de mentira. E, pior, que passamos adiante o que imaginávamos verdade. E que quase tudo que se pensava era uma espécie de falácia – principalmente no campo da história das artes.

 

Como foi possível não perceber a violência que nos foi cometida e normalizá-las? E acreditar que era “bom e confirmar” e reproduzir? Mas agora, como agir quando estamos despertando, abrindo os olhos para a nova realidade que se nos apresenta?

1 - A NECESSIDADE DE UMA ATITUDE CRÍTICA

Hoje, a nova consciência da multidimensionalidade do planeta nos obriga a desenvolver novos olhares sobre o mundo em que vivemos e nós mesmos. Parece que mesmo de modo ainda lentamente, passamos a perceber a importância de limpar as nossas mentes de valores equivocados que nos foram ensinados como verdades inquestionáveis. Precisamos estabelecer estratégias, desenvolver ações críticas de ações pontuais rápidas e significativas. 

O sistema que nos controla, hoje, possui artifícios mais sutis que a violência explícita do passado. Eles nos dominam o espírito. Talvez até sem perceber, ainda somos colônia. Embora não tenhamos mais os nossos países ocupados por tropas e outros poderes, somos ocupados de diferentes modos. Através do vestir, da maneira de pensar, do aprender, nos modos de ver o mundo e até no jeito de fazer arte. Talvez hoje, em vez do nosso território, são as nossas mentes que estão ocupadas. 

 

Será que precisamos branquear a nossa pele e a nossa alma; espichar e alourar nossos cabelos, estrangeirar nosso espírito, nossa mente e nossos sonhos? Esquecer nosso jeito próprio de ser, falar uma língua diferente da nossa para nos aceitarem como somos? Não. Não temos que acolher regras e os valores que não são nossos para que nos consintam a existência. Se não fizermos isso tomando atitude questionadora jamais teremos a nossa plenitude.

As culturas colonizadoras nos prometiam e prometem ventura e aventura, saberes sólidos, poder cultural, alegria, crescimento, transformação de si e do mundo e, na verdade, destroçam o que tínhamos e temos, o que sabíamos e o pouco que sabemos; e tudo o que fomos e somos. Nos anunciaram em troca da aceitação de nossa existência, benesses, mas, na verdade aniquilam tudo que éramos na busca da sintonia com eles. 

Os estrangeiros, até mesmo os que diziam ter por objetivo salvar nossas almas, aqui aportaram carregados de violência: a tomada da terra, a imposição de novas ideias, novos modos de viver, vestir e morar, leis que não nos eram naturais. Assim aconteceu conosco, mas parece que temos dificuldade de ver e sentir os fatos e coisas que estão na nossa frente. Por isso, precisamos buscar reconstruir nossas memórias. Elas foram tornadas desimportantes, esquecidas, apagadas, destruídas. Precisamos eliminar o desejo de sermos brancos, modernos, sofisticados, elitistas como os dominantes, e colocar de lado ou esquecer, pelo menos um pouco as visões que nos foram ensinadas, principalmente no campo das artes. 

 

O primeiro passo na tentativa de promover a nossa adequação a esse novo tempo, multidimensional que se instala, é rever de modo crítico a nossa cegueira que não nos deixa perceber o que se encontra fora dos parâmetros eurocêntricos.

2 - CHICO DA SILVA UM EXEMPLO POR SER SEGUIDO

 

Um dos poucos artistas atuantes no Ceará que não foi envolvido pela trama colonialista foi Chico da Silva e, por esse motivo, ele deve ser louvado, estudado, pensado, lembrado como um dos principais artistas do nosso Estado. 

Não é simples fazer arte fora dos padrões eurocêntricos e conseguir ter o seu trabalho aceito e reconhecido em sua importância. Chico conseguiu esse feito, embora tenha obtido uma consideração muito menor que seu merecimento. Os valores eurocêntricos estão tão embutidos na alma dos brasileiros que, segundo Clarival do Prado Valadares, foi a própria chefia da delegação de nosso país junto à Bienal de Veneza (da qual Clarival também era membro), que não aceitou que Chico fosse premiado. Como estávamos vivendo um governo autoritário, pensavam que o ato de agraciar um índio, de cor e analfabeto seria uma tentativa de denegrir a imagem do nosso País.

 

Na verdade, através de seus trabalhos, Chico colocava em xeque valores tidos como verdadeiros: 

 

Na sua arte, Chico rompia com o colorido morno que nos foi ensinado nas academias de visão eurocêntrica. Ele empregava cores fortes, às vezes primárias, às vezes eram lançadas em contrastes violentos obtendo um vigor cromático que valorizava, destacava e propiciava a vibração dos pigmentos.

 

O seu modo de aplicar as manchas de cor era diferente do cânon europeu. Ele, seguindo inconscientemente a tradição dos pintores autóctones, aplicava pequenas manchas fracionadas de pontos coloridos, formando uma textura não contínua, vibrante, viva, pontilhada e bastante longe das superfícies uniformes e corridas, comuns na arte dita ocidental. Essa característica também pode ser percebida em manifestações artísticas de outros povos não ocidentalizados, como os artistas de origem aborígene, os artistas índios do Alasca, do Canadá e de alguns pontos da África e mesmo de nossa América.

 

Também nas suas composições poderia ser notado o aparecimento de campos espaciais onde se impõe uma geometria não rigorosa, que também podemos observar em manifestação de outras expressões estéticas de influência não europeia, como nas pinturas de malas de madeira revestidas de papel, nos desenhos decorativos em carrocerias e paralamas de caminhões e em algumas pinturas de elementos da estética popular encontradas nos pequenos circos, parques de diversões e quermesses; no tacheado dos baús, nas costuras e pespontos dos trabalhos de selaria e nos gibões e calçados de vaqueiros; em alguns elementos decorativos das cerâmicas de tradição indígena e nos arranjos da arquitetura de origem popular. Outra face dessa geometria também pode ser percebida, neste caso apenas nas estruturas das composições, nas rendas, bordados, labirintos e filés. 

 

Na arte de Chico também se podia e pode perceber a representação de um universo coeso, onde o artista visualmente busca a integração dos fundos com os corpos ou formas de múltiplos planos de composição. 

 

Além destas características que diríamos técnicas, devemos também destacar o universo temático. As imagens grafadas por Chico aparentam registrar momentos de sonhos ou apreensões diretas de elementos colhidos no universo visual encontrado na nossa Natureza (nos mundos vegetal ou animal marítimo), em variações ou em criações hibridadas de visões oníricas expressivas, destacando-se por sua invenção, agressiva beleza, unicidade ou estranhamento. Estas expressões, acredito, muito mais ligadas às energias interiores ou espirituais que a movimentos ou correntes artísticas intelectuais de origens alienadas. Muito pelo contrário: a arte de Chico mostra o que somos¹. 

 

E, muito provavelmente, se podemos encontrar semelhanças nas soluções estéticas obtidas em alguns movimentos artísticos da Europa, não é porque elas têm a origem por lá. Na verdade, os seus artistas é que beberam nas fontes dos mundos não europeus². São racionalizações obtidas nos contatos que travaram com manifestações artísticas de fora da Europa. Isso facilmente pode ser percebido ao se estudar um pouco das vidas de Matisse, Picasso, Modigliani e outros artistas de lá.

 

E, se desejamos buscar similaridades dessas nossas características de expressividade, com mais facilidade podemos encontrá-las nas produções artísticas de povos não europeus, nas manifestações artísticas africanas e indígenas de muitos povos nativos da América e mesmo na produção visual das nossas camadas sociais com menos recursos econômicos e, logicamente menos exposição ao ensino formal, ainda um forte aparelho de implantação de valores colonialistas.

3 - A EXPOSIÇÃO DE BORDADOS INSPIRADA EM CHICO

Aprendemos nos processos educacionais de caráter colonialista e eurocêntrico que ainda estamos submetidos, que a origem das artes de trançar fios remonta o período neolítico europeu³. Depois, temos notícia de que nos séculos XV e XVI, bordar era uma atividade desenvolvida nos conventos na preparação de ornamentos para as igrejas e vestes sacerdotais. E, na história oficial, com esse objetivo esse ofício deve ter sido transplantado para o Brasil e obteve uma boa receptividade entre os nativos por já cultivarem essa arte⁴.

É certo que, quando aqui chegaram os europeus, no início do século XVII, já se faziam tecidos de algodão e trançados outros em diversas fibras vegetais. Empregava-se o produto desse trabalho em adereços corporais como tangas, colares, embiras e alguns cocares, misturando elementos têxteis e plumas em esteiras, mobiliário - se assim podemos chamar as redes de dormir -, utilitários da vida como redes de pesca, cestas, urus, cordas, tipitis e mesmo como alguns elementos de suas habitações como cobertas, vedações e divisórias.

 

Desde o século XIX, renomadas e reconhecidas em todo o País são as nossas rendas, os bordados e as redes produzidos no Ceará. No momento atual, a produção têxtil no Ceará alcança um nível de execução que a coloca num elevado patamar estético. Todavia, esse reconhecimento se dá apenas como linguagem artesanal, (aqui entendendo o artesanato como o campo das artes aplicadas onde o prioritário é a execução, o fazer), não existe o reconhecimento pleno dessa produção enquanto manifestação criativa ou expressão artística. Atualmente o Ceará bordado é mais Arte que Artesanato.

 

Foi aí que surgiu a proposta de, para marcar os 110 anos de nascimento de Chico da Silva e os 35 anos de sua morte, realizar um exercício coletivo de se buscar inspiração na obra do artista para realizar uma mostra de bordados que incorporassem o seu universo expressivo estético e artístico. A ideia foi acolhida pelo grupo de ENTRELAÇADAS, composto de mais de duas dezenas de bordadeiras e coordenado por Iara Reis.

4 - O EXERCÍCIO DE PENSAR CHICO DA SILVA COMO OPÇÃO ESTÉTICA

 

O resultado obtido pelo grupo foi bastante estimulante. Principalmente porque, por motivo da pandemia do Corona Vírus, não pudemos realizar os encontros que haviam sido planejados para a realização de orientações e acompanhamentos dos trabalhos, o que transformou o exercício em algo quase autodidata. 

 

Todavia, se esse quase autodidatismo resultou numa certa inibição visível nas produções de algumas bordadeiras, levando-as a se deixarem prender pela simples incorporação direta de algumas imagens digamos “clássicas” do imaginário de Chico: Galos, Peixes e Dragões, por outro ângulo, talvez o ponto alto da mostra, está na capacidade que quase todas as bordadeiras tiveram de mergulhar no rico mundo das cores vibrantes, das texturas, da incorporação de elementos decorativos do mundo vegetal e mesclá-los com outros elementos zoomorfos de que vemos nas obras de Chico e de seus seguidores, possibilitando o ressurgimento de maneiras, sinais e elementos simbólicos essenciais da nossa cultura.

 

Riquíssimos são os contrastes violentos e o colorido intenso criando texturas e o destacado pontilhismo, bem característicos das manifestações artísticas do nosso povo que pode ser percebido em quase todos os bordados da coleção. 

 

Também perceptível em alguns trabalhos é a existência de uma geometria de linhas não retas, sinuosas; temas de inspiração irreal ou oníricos e o emprego de elementos decorativos de origem zoomorfa. Algumas bordadeiras também conseguiram registrar um certo grau de ingenuidade em alguns trabalhos, o que também é uma característica de nosso povo.

 

Enfim, a exposição consegue apreender um modo de fazer arte diferente do cânon ou modo de fazer arte dominante mergulhando nas características mais legitimamente de nosso povo e de nossa cultura. E por isso Ângela Carneiro, Annaeliete Chagas, Claudia Pinheiro, Cristina Capelo, Helenira Cunha, Hilda Gouveia, Iara Reis, Ieda Souza, Ivanisa Farias, Ivone Marques, Jacinta Joca, Láucia Rocha Lima, Lucia Alves, Margarida Gonçalves, Marta Viana, Mercedes Cunha, Nadja Almeida, Olga Claudino, Paula Lóscio, Paula Monteiro, Suzana Coelho, Vanda Fernandes, Zenaide Fortes e Zenaide Maia estão de parabéns por seus trabalhos individuais, mas principalmente por proporcionarem ao público amante das artes uma oportunidade ímpar de perceber as riquezas do nosso universo estético e assinalar uma bela homenagem a Chico da Silva, artista que deu início ao desvelamento do nosso universo estético/visual próprio, livre de influências estrangeiras alienadas e alienantes.

Texto 1
01.Angela Carneiro
01. Angela Carneiro Foto.jpg
ANGELA CARNEIRO

O Galo (68cm x 56cm)

2.Anneliete Chagas
3. Anneliete Chagas foto.jpg
Anneliete chagas

Chico por muitos Mares (33cm x 55cm)

03. Claudia Pinhiro
12. Claudia Pinheiro foto.jpg
CLÁUDIA PINHEIRO

A Beleza das Cores (38cm x 38cm)

04. HELENIRA CUNHA
20. Helenira Cunha Foto.jpg
HELENIRA CUNHA