por CAMILA DE ALMEIDA
“O canto vinha de longe
De lá do meio do mar
Não era canto de gente
Bonito de admirar
O corpo todo estremece
Muda cor do céu do luar
Um dia ela ainda aparece
É a rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Quem ouve desde menino
Aprende a acreditar
Que o vento sopra o destino
Pelos caminhos do mar”
Como nos versos de Dorival Caymmi, o encontro da fotógrafa Camila de Almeida com as crenças e histórias em torno de Janaína, Iemanjá ou Rainha do Mar ocorreu ainda na infância, pelas andanças no Rio Vermelho, época em que morava na cidade de Salvador. Depois da escola, Camila assistia as preces, via as oferendas e sentia o cheiro de alfazema pelas ruas enquanto tomava sorvete. A fé, o aroma e os rituais dedicados a Rainha do Mar são lembranças fortes que ela também ia encontrar em outra cidade, anos depois.
02.02.20 Salvador - Acreditar
02.02.20 Salvador - Ancestralidade
02.02.20 Salvador - Caminho no Mar
02.02.20 Salvador - Canto pra Janaína
02.02.20 Salvador - Festa das Águas Salgadas
Foi em 2018, nas areias da Praia de Iracema, na cidade de Fortaleza, que Camila reencontrou, fotograficamente, as preces, os pontos entoados, as bênçãos, as oferendas e o cheiro de alfazema. Em Salvador, o Dia de Iemanjá, é celebrado no dia 2 de fevereiro mas em Fortaleza a comemoração é no dia 15 de agosto. As diferentes data são consequências do sincretismo religioso fortemente presente em nosso país.
“Lá em Rio Vermelho
Em Salvador
Vamos dançar
Dia 2 de fevereiro
Dia de Iemanjá
Leve mimos pra sereia
Janaína Iemanjá”
(Otto)
15.08.18 Fortaleza - Agradecimento
15.08.18 Fortaleza - Profissão de fé
15.08.18 Fortaleza - Proteção
15.08.18 Fortaleza - Soberania
“Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Dandalunda, Janaína
Marabô, Princesa de Aiocá
Inaê, Sereia, Mucunã
Maria, Dona Iemanjá”
(Maria Bethânia)
Além do interesse pela religião, foi na fotografia que Camila encontrou um meio de desestigmatização da intolerância religiosa sofrida pelas crenças de matrizes africanas em todo o Brasil.
“A festa a céu e mar aberto mostra a resistência de uma crença secular que durante anos foi perseguida, vítima de racismo. Trazer luz para os orixás é também ser iluminada por eles. Depois de dois anos fotografando na Capital, tive a oportunidade, e porque não dizer o desejo, de fotografar a festa em Salvador. Lá uma multidão se prepara o ano inteiro para a alvorada no Rio Vermelho.”
15.08.18 Fortaleza - Eu Pedi Um Abraço E Ela Me Deu (I);
15.08.19 Fortaleza - Eu Pedi Um Abraço E Ela Me Deu (II)
15.08.19 Fortaleza - Devoção à Rainha
O particular de manifestações coletivas nas festas dedicadas à Iemanjá é o tema desta exposição online.
Fé como um dos sentimentos mais particulares da natureza humana.
Fé que por mais que se demonstre coletiva nas religiões, há sempre o envolto particular nas orações, nos pedidos, nas preces.
15.08.19 Fortaleza - Preces em água e sal
15.08.19 Fortaleza - Seja feita a vossa vontade
15.08.19 Fortaleza - Presentes para Iemanjá
As fotografias desta exposição foram realizadas entre os anos de 2018 e 2020 nas cidades de Fortaleza (CE) e Salvador (BA) e possuem técnicas de edição diferentes pelos horários em que foram registradas, no pôr do sol e pela manhã, bem cedo.
“É com o povo que é praieiro
Que Dona Iemanjá quer se casar”
(Maria Bethânia)
Camila de Almeida é publicitária, fotógrafa profissional há 8 anos, atuando como fotojornalista em veículos de comunicação por 7 deles. Atualmente, segue como freelancer fotografando para revistas, jornais e marcas nacionais e locais. Fazendo luz no escuro da noite ou traduzindo o pino do meio dia: “como dizem aqui no Ceará, sempre é tempo para uma boa foto”.